Por Paulo Cristiano, do CACP
Revista Defesa da Fé - nº 55
A eucaristia é um dos sete sacramentos Igreja Católica. Segundo o dogma católico, Jesus Cristo se acha presente sob as aparências do pão e do vinho, com seu corpo, sangue, alma e divindade. Isto é o que geralmente se entende por transubstanciação. A doutrina da transubstanciação não tem respaldo bíblico. Ao longo de sua história, nem todos os representantes da Igreja Católica concordaram com essa doutrina, entre eles podemos citar os papas Gelásio I e Gelásio II, São Clemente e Agostinho, entre outros.
A tradição da Igreja Católica, além de tropeçar nas metáforas e figuras da Bíblia na questão da eucaristia, que por si mesma já é uma aberração teológica, consegue embutir nela mais algumas heresias, como a ministração de apenas um só dos elementos aos fiéis - a hóstia. Segundo essa doutrina, a hóstia preserva o comungante de pecados, tem poder para ajudar os mortos e, pasmem!, pode ser adorada. Tais heresias não têm o mínimo fundamento bíblico, entretanto, são de vital importância dentro da dogmática do catolicismo romano e, por isso, ainda estão de pé.
É preciso salientar ainda que a confecção da hóstia teve sua origem no paganismo, sendo, portanto, plagiada e inserida no bojo doutrinário da igreja romana.
A hóstia passou a substituir o pão da ceia somente no ano de 1200. É algo impar, especial, fabricada com trigo e sempre redonda. Por ocasião da festa de Corpus Christi
(1) o "Santíssimo Sacramento" é levado às ruas em procissão dentro de uma patena
(2) de ouro representando um sol. Podemos constatar nesse ato uma flagrante analogia com as religiões pagãs da antiguidade. Conta-se que a deusa Ceres
(3) era adorada como a "descobridora do trigo" e, por conta disso, representada com uma espiga de trigo nas mãos. Tal representação correspondia à deusa Mãe e seu filho. O filho de Ceres, que se encarnara no trigo, era o deus Sol. Compare essa afirmação com a doutrina católica que transformara Jesus num pedaço de pão de trigo no formato arredondado do sol cujo ostensório
(4) também tem um desenho com raios solares.
Por que só a hóstia?
O estudante de história da igreja sabe perfeitamente que nenhuma doutrina católica advinda da chamada "Tradição Oral"(5) pode ser substanciada, quer na história dos primeiros séculos da igreja, quer na Bíblia! Nesta última muito menos.
Os apóstolos seguiram o costume bíblico de ministrar a ceia sob esses dois emblemas: pão e vinho. A igreja pós-apostólica(6) também seguiu o mesmo exemplo, como vemos ao analisar as obras patrísticas(7) dos primeiros séculos. Os católicos precisam rodear e florear suas explicações para esclarecer o fato de o sacerdote dar apenas um dos emblemas (pão) ao fiel, o que é uma clara desobediência ao mandamento do Mestre. Jesus foi taxativo ao dizer "bebei dele TODOS". Essa ordem de fato não se pode cumprir na Igreja Católica. Por mais argumentos que inventem, a verdade continua inalterável: Jesus e os apóstolos nunca mudaram o mandamento. Portanto, Jesus instituiu as duas espécies (Mt 26.26,28), e os apóstolos seguiram esta ordenança (I Co 11.23-28). Isto só veio a ser mudado nos concílios de Constança(8) e, posteriormente, reafirmado no de Trento(9). No entanto, voltamos a reafirmar que a ordem de Cristo foi mais que explícita: "Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele" (Jo 6.53-56).
Esse trecho das Escrituras levou dois clérigos da Igreja Católica, Jacobel de Mysa e João de Leida (séc. XIV), a voltarem ao princípio das duas espécies e logo se empenharam em espalhar isto na cidade de Praga, e não demorou muito, logo toda a Boêmia se declarou a favor. Mais tarde, João Huss foi para a fogueira papal por defender essa doutrina bíblica.
Ora, Jesus não foi explícito ao dizer que quem não bebe o seu sangue não tem parte com ele e não tem a vida eterna? Isto não serviria como uma grande advertência aos católicos? Não estariam correndo o risco de não terem parte na vida eterna? Porque na prática não bebem do sangue como disse Jesus! Se as duas espécies fossem coisa de somenos importância, de certo Jesus teria instituído uma espécie apenas: somente o pão. É certo que as Escrituras nunca fazem qualquer menção de que Cristo esteja com seu sangue embutido no pão. A linguagem usada é por demais contundente: comer e beber, pão e vinho, carne e sangue. A igreja romana tem alterado o mandamento original recusando-se a seguir o exemplo de Jesus e dos apóstolos e tem abandonado a prática de toda a igreja primitiva; prova disso é a Igreja Ortodoxa, que é tão antiga quanto a romana, e mesmo assim ainda preserva o costume bíblico de ministrar o pão e o vinho aos fiéis. Por outro lado, as igrejas evangélicas têm seguido a mesma prática instituída por Cristo sem alterações e, por isso, podem usufruir das bênçãos advindas dessas duas espécies, algo que não se dá na Igreja Católica.